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Por Adalice Araújo

O nome de Maria Cheung – radicada em Foz do Iguaçu / Pr – impõe-se como uma das grandes revelações das Artes Plásticas no Paraná, na década de noventa.

Ela passa a ser conhecida a partir de uma instalação apresentada no 53O Salão Paranaense (96), onde é premiada. Surpreende, então, a Comissão Julgadora pela energia zen de sua proposta, constituída por discos de cerâmica, simbolizando: céu, terra, água, fogo, ar, homem, mulher, entre outras metáforas visuais que sintetizam suas memórias pessoais e familiares; suas raízes, costumes e arquétipos da cultura chinesa; bem como suas fantasias. Tem-se, então, a certeza de que a Arte Paranaense estava penetrando em uma nova concepção de territorialidade da escultura/cerâmica.

Certeza esta, não só confirmada como ampliada para o conceito de “escultura expandida”- teorizado por Rosalind Krauss como a capacidade de incorporar materiais diversos, ultrapassar a postura estática da escultura como objeto de contemplação, para incorporar o sentido temporal, por vezes perecível, inserindo-se na vida humana e nas suas circunstâncias -; quando de sua individual no Museu Alfredo Andersen (Ctba, 99), intitulada “Fósseis de Mim”, de caráter confessional – enquanto revelação da sua própria identidade sócio-cultural e, agora, na mostra “NUI” (mulher em chinês), em exposição no NAC – Núcleo de Arte e Cultura da UFRN, em Natal. Nesta série de instalações, Maria Cheung cria um espaço para a meditação, reflexão a nível da antropologia cultural e contestação ao “status quo”; abrindo a caixa intima de segredos para revelar a alma feminina, discutindo a condição da mulher nas sociedades patriarcais.

O visitante depara-se com um espaço ao mesmo tempo refinado e dramático, composto por várias instalações, onde utiliza 800 pés de cerâmica e 50 máscaras – múltiplos da própria artista -; ferros, plásticos, vidros, samburás, meias de nylon, águas e corantes; sendo que, cada proposta ocupa aproximadamente 10m2. Inspira-se em sua bisavó e nas mulheres chinesas que até o século XIX tinham os pés mutilados – sendo enfaixados desde a infância – para que não crescessem além de 8 cm. de comprimento. Os homens obrigavam as mulheres a este sacrifício não só porque para eles os pés pequenos e enfaixados eram um fetiche sexual, como também representavam submissão e clausura. Os pequenos passos que conseguiam dar, tornavam-nas frágeis e dependentes; sem autonomia para se locomover livremente.

Em uma das instalações, os pés – como ícones da dor – são depositados como ex-votos em um templo imaginário habitado pelo silêncio milenar.

Em “Fetiches” ela instala pés cerâmicos com meias pretas de nylon, construindo pernas processionais, onde alude à poética do vazio, criado por uma multidão de mulheres roubadas em sua essência mais humana que é a liberdade. Marcha silenciosa de pernas que se multiplicam formando um corpo social milenarmente oprimido em um universo isolado e castrador.

Para criar a Sala do Sacrifício constrói sobre a areia, um grande retângulo, sobre o qual sobrepõe retângulos menores, construídos com plástico transparente, água com corante vermelho e pés cerâmicos brancos. A sensação macabra de mutilações humanas - envoltas em sangue - criam o símbolo do sacrifício milenar onde gerações e gerações de mulheres chinesas foram sacrificadas. Ao mesmo tempo, torna-se evidente a metáfora da passagem para outro plano, após o holocausto.

Como uma antropóloga social utiliza samburás suspensos, contendo pés cerâmicos; contrapondo a materialidade do metal, elemento industrializado, ao sentido orgânico da cerâmica. Cada samburá torna-se um elemento de tensão aberto a inúmeras leituras: clã, trabalho confinado às clausuras que estas mulheres monacais eram obrigadas a viver. Tratam-se de objetos mitológicos, cuja leitura, também, exige consciência antropológica.

Com estruturas de metal monta Grandes Memoriais, que, em sua solenidade, nos falam do egoísmo gerado pelas fechadas sociedades patriarcais que tira das mulheres o direito à auto determinação, condenando-as ao silêncio, e ao ostracismo.

Os múltiplos das máscaras da face, que carbonizadas escurecem, simbolizando a carga de dor e opressão acumuladas, criam em seu efeito dramático - cujo eco nos atinge até hoje – verdadeiras máscaras sociais.

Nesta série de instalações Maria Cheung deixa transparecer um alto grau de consciência histórico/social. Aprofundando-se no conceito da filosofia oriental – em sua potencialidade espiritual – ela cria ícones da memória que conseguem nos falar não só da cultura chinesa, como da alma do mundo.

ADALICE ARAÚJO – Membro da Associação Brasileira e Internacional de Crítica de Arte e História da Arte do Paraná - Brasil

MARIA CHEUNG PROPOSES ICONES OF PAIN AND SILENCE IN THE INSTALLATIONS “NUI”

The name Maria Cheung - currently living in Foz do Iguaçu – Pr - imposes itself as one of the greatest talented artist in sculptures during this decade. She becomes well know from an exhibition presented in the 53º Paraná Fine Arts Exhibition, where she is awarded. The jury become astonished with the ZEN energy of her work, which are disks of ceramics, symbolizing : sky, earth, water, fire, air, men, women, among the other visual metaphors which synthesize her personal and family memories; as well as her fantasies. One can , therefore, be sure that the Art from Paraná is discovering a new conception of perspective in the work of sculpture/ceramics blended together.

Certainly which is not only confirmed but also extended to the concept of “expanded sculpture”- teorized by Rosalind Kraus as the ability to combine several types of material and beyond the static posture of the sculpture as an object of contemplation to itself in the human life and its circumstances.

As for her individual exhibition in the “ Älfredo AndersenMuseum” – (Curitiba – 1999), entitled “Fóssil of Me”- wich assumes a cofessional chareter – while being revelation of her own sociocultural identity and , rigt now, in the work “NUI” (woman in chinese), in the NAC exhibition of UFRN ( Center of Art and Culture”of “Rio Grande do Norte University).

In this series of installation, Maria Cheung creates a space for meditation, reflection at the level of culture and contestation of the “status quo”, opening the intimate secret box to show the femine soul, discussing the women’s role in the male-chauvinisstic societies.

The visitor encounters a space wich is both refined and dramatic, wich consts of several installations where 800 feet of ceramics and 50 ceramics masks – multiples of the artist herself – pieces of iron, plastics, glasses, creels, panty hose, water and pigment.

Each pieces of work takes up 10 square meters approximately. Inspired in her great-grandmother and the Chinese women who until the 19ºcentury had their feet mutilated – bounded since their infancy – so as not to grow beyond 8 centimeters of length.

Men would force women to such sacrifice not only because for them, the small and bounded feet were a sexual fetich, but they would also represent submission and seclusion. The short steps that they were able to take would make them fragile and dependant, without any autonomy to move freely.

In one of the installations, the feet – as icones of pain – are deposited as ex-votes in an imaginary temple by the millenary silence.

In “Fetich”, she exhibits ceramic feet with black nylon panty hose, building processional legs, where she alludes to the empatiness poetic, created by millions of women who were taken away from their most human essence, wich is freedom. Silent march of legs that multiply forming a social milenary opressed body in na isolated and suppressed universe.

In oerder to create the Sacrifice Room, she builds a rectangle on the sand, up on wich smaller rectangles are superposed with transparents plastic, water and red pigment, as well as the white ceramic feet. The macabre sensation – feet soaked in blood – creates a symbol of milenary sacrifice where generations and generations of Chinese women were sacrificed, At the same time, the methaphor becomes evident for another background, after the holocaust.

As a social anthropologist, she uses suspended creels containing ceramic feet; counteractiing the metal materility, industrialized element, as opposed to the organic sense of the ceramics, Each creel becomes a tension element opened to the innumerable reading: clans, confined work wich these monarchical women were obliged to live. They are mythological objects, whose reading also demands an antropological consciousness.

With metal frameworks, she assembles Great Memorials, wich, in her solemnty, express her egoins generated by the closed patriarchal societies and deprives the women of their self- determination, sentencing them to the silence and to the ostracism. The multiplicity of face masks, which hardens as they are carbonized – representing the load of pain and accumulated oppression – creste a dramatic effect whose echoes can be heard even nowadays – real social masks.

In this series of installations, Maria Cheung impliesa highdegree of historic and social consciusness. Delving into the concept of Oriental philosophy – in her spiritual potentiallity – she creates icones of memory that can show us not only the Chinese Culture, but also the soul of would.

ADALICE ARAÚJO – Member of Brazilian and International Association of Critics of Art and Historian of Art from Paraná - Brazil.

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