Sombras Chinesas
“Sombras Chinesas” é uma coletiva que se realiza por ocasião da exposição “China - Os Guerreiros de Xi´an e os Tesouros da Cidade Proibida”, no parque Ibirapuera. A rigor, nada a ver. Nas entrelinhas, muito a ver - vestígios, traços, sinais, indícios de uma forma semelhante de abordar a arte e a realidade.
Kurt Jürgen, Maria Cheung e Norma Grinberg, a exemplo do ponto principal da mostra chinesa, os guerreiros de barro encontrados por acaso na região de Xi´an, também se manifestam com a linguagem da cerâmica, da maneira mais contemporânea, e se preocupam com a figura humana – ou fragmentos da figura humana – e seu contexto.
A cerâmica é, como bem o demonstram os guerreiros chineses, que foram feitos de terra e voltaram a ela, até serem resgatados há algumas décadas, a arte da perenidade. É a arte feita com os elementos da terra, seus minerais, e sob a capa de sua fragilidade esconde a grande resistência a altas temperaturas, ao ataque dos produtos químicos e ao próprio tempo. Uma arte que se vincula ao mundo real, fixando-o para sempre.
Kurt Jürgen, Maria Cheung e Norma Grinberg, artistas de duas gerações distintas, valem-se da maleabilidade da argila para, por meio desse fazer lúdico, que remete à infância, comentar, com olhos de adultos, o seu tempo. E a cerâmica, por conter os elementos eternos da terra – as primeiras louças de barro datam de cerca de 5000 a.C. -, é a técnica ideal para falar do tempo. Ao comentar o tempo, os artistas comentam sobretudo quem introduziu a noção do tempo: o homem.
E provam a vitalidade da cerâmica brasileira contemporânea.
Federico Mengozzi . curador
Esta mostra é independente e, por certos traços comuns, como o uso da cerâmica e o estudo da figura humana, evoca a exposição “Os Guerreiros de Xi´an”, atualmente no parque Ibirapuera, em São Paulo
*Sombra . [Do lat. umbra, atr. De um lat. vulg., sulumbra ( = sub illa umbra) e de um arc. soombra.] S.f. 14. Fig. Vestígio, traço, sinal, indício. (“Novo Dicionário da Língua Portuguesa”, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)
Kurt Jürgen
estuda Poéticas Visuais na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Seu trabalho se inspira na ancestralidade da raça humana e resulta em peças que define como “fósseis humanos”. São fragmentos do corpo, de um corpo não definido, deformado e contorcido, principalmente pernas e pés, feitos a partir de moldes em argila e organizados de forma a alcançar um conjunto de viés expressionista. Como se fossem fragmentos de uma história.
Maria Cheung
nasceu em Hong Kong, hoje reintegrada à China, mas formou-se em Educação Artística em Santos (SP) e atua a partir de Foz do Iguaçu (PR), onde mora. Em seu trabalho, que obtém um reconhecimento crescente, evoca a milenar civilização chinesa, criticando alguns de seus aspectos, como os pés mutilados das mulheres, enfaixados desde a infância, mas fala sobretudo do homem em todas as latitudes e longitudes, ao explorar aspectos de sua topografia corporal e de sua circunstância.
Norma Grinberg
artista plástica e professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, é uma das mais consagradas ceramistas brasileiras, com obras em coleções particulares e públicas, a exemplo de “Lugar com Arco”, instalada no campus da Cidade Universitária. Em sua obra, convivem formas abstratas e formas figurativas, principalmente na série “Humanóides”, formas longilíneas, esguias, verticalizadas, góticas, tema que a acompanha desde meados dos anos 90 e que remete remotamente às esculturas das ilhas Cíclades, na Grécia.
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